Igreja da Luz de Tavira São hoje cada vez mais importantes os indícios que apontam para a ação de André de Pilarte como construtor da Igreja de Nossa Senhora da Luz de Tavira. Pilarte, formado no grande estaleiro manuelino dos Jerónimos, é o principal responsável pela existência de um foco renascentista no Sotavento algarvio, sedeado em Tavira (onde subsiste o magnífico portal da Igreja da Misericórdia e outras obras tanto de carácter religioso como civil), mas com um raio de ação bastante largo, chegando às igrejas de Moncarapacho, de Alcoutim e de Ayamonte. A própria evolução da sua oficina estará ainda na origem das primeiras obras maneiristas desta parcela oriental da província, facto que permite intuir de uma ação mais prolongada no tempo e mais complexa estilisticamente. A estrutura do templo da Luz de Tavira constitui, ela própria, uma inteira novidade no panorama arquitetónico quinhentista do Algarve. Como a definiu José E. Horta Correia, trata-se da única igreja-salão (hallenckirche) da região, cronologicamente situável entre as igrejas-salão manuelinas e as dos anos 50 do século XVI. O interior compõe-se de três naves de quatro tramos, todas à mesma altura, com cobertura em abóbada de ogivas nervuradas e assentes em finas colunas que integram capitéis renascentistas. Não existe transepto e a cabeceira, de capela única com abóbada manuelina, é visível de todos os espaços do corpo da igreja. A fachada principal foi alterada na segunda metade do século XVIII, na sequência do terramoto de 1755. Dessa campanha resultou a estranha solução para a empena da fachada, com um frontão circular enquadrando axialmente o portal, ladeado por dois outros frontões menores, triangulares, que se ligam ao central através de volutas. O portal principal, aberto para o amplo rossio fronteiro à igreja, é uma obra de carácter cenográfico que revela bem a cronologia e a qualidade do seu arquiteto. Com uma ampla moldura em cantaria, o portal é ladeado por duas pilastras com capitéis jónicos. Superiormente, é delimitado por um frontão triangular que integra um óculo circular no tímpano, elemento que filtra a luz para o interior, desenvolvendo-se ainda, em relação vertical axial, um nicho de arco reto que contém uma imagem de Nossa Senhora. Um outro elemento exterior de grande importância para a história do templo é o portal sul, de perfil abatido, e composto por quatro arquivoltas, as exteriores definindo um arco contracurvado. Filiado estilisticamente no ciclo manuelino, com as características bases prismáticas, capitéis de profusa decoração vegetalista, última arquivolta de perfil torso espiralado terminando num pináculo vegetalista, este é um dos principais portais manuelinos do Sotavento algarvio e, apesar da sua datação tardia, constitui uma referência obrigatória nos caminhos da arte na região. O interior apresenta-se, hoje, relativamente despido de mobiliário litúrgico. Dois altares laterais, neoclássicos - o do lado Sul integrando elementos de um anterior retábulo barroco - constituem o recheio das naves. O retábulo-mor, por sua vez, é o produto de diversas campanhas da Idade Moderna. O resultado é uma estrutura adaptada à parede fundeira e à curvatura circular da abóbada, integrando uma pintura central tardo-renascentista, vários elementos maneiristas e um acabamento já barroco. O Rossio da Igreja de Nossa Senhora da Luz é um espaço público modelado aquando da construção da igreja, mas onde se refletem bem as diferentes épocas de construção e de expansão da vila. O espaço central, de planta retangular desenvolve-se a partir do adro da igreja, é ocupado por um jardim. Nos limites Ocidental e Norte, habitações de piso térreo definem este espaço, subsistindo ainda algumas do séc. XIX. Igreja Matriz de Santo Estêvão A Igreja Paroquial de Santo Estêvão, é sem dúvida, no aspecto patrimonial, o principal ponto de referência da Freguesia e, na sua arquitectura simples, sobressaem as torres paroquiais de uma forma airosa e quase imponente. Fica situada na parte central da aldeia, no Largo Dr. Carlos Picoito. Remonta que pelo menos, ao Séc. XVI, encontrando-se num registo de casamento efectuado na Igreja de Nossa Senhora da Luz, a 11 de Agosto de 1597, referência ao "cura da Igreja de Santo Estêvão", chamado João Fernandes Garganta. A Igreja Paroquial desta Freguesia manteve-se isolada de casas de habitação até à segunda metade do Séc. XIX, processo que só veio a terminar em 1922. Atendeno ao reduzido número de moradores e aos seus limitados recursos, este templo foi desde as suas origens um edifício de modestas dimensões. Entre 1790 e 1855 a Paróquia de Santo Estêvão, anexou a sua vizinha da Luz de Tavira, pois esta última tinha poucos moradores e não podiam contribuir com o suficiente para a condigna sustentação do Pároco. Dotada de um extraordinário som acústico, a Igreja Paroquial tem um baptistério, uma sacristia e três capelas laterais, uma no lado do Evangelho e duas no lado da Epístola (a Capela do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora do Rosário e das Almas, respectivamente). São em madeira com marmoreados, incluindo a mesa do altar, o retábulo, o intradorso e o arco da capela originários do Séc. XIX. Uma delas era administrada pela Irmandade das Almas. Ermida do Livramento Situada a cerca de três quilómetros da Luz de Tavira, esta ermida foi erguida a mando do Padre Manuel Viegas Leal em 1708. Este é um templo com fachada de pórtico simples e rematada por um frontão curvo ladeado por dois campanários. No seu interior existe um altar barroco, construído com mármores do Algarve. A pequena ermida do Livramento, do morgado de João Diogo Mascarenhas, de esquisito gosto e arquitetura. O frontal do altar é formado de duas pedras de cores que fazem hum retângulo O retábulo é construído de 4 colunas que do meio para cima vão torcidas, tem os capiteis de mármore branco, no vão das colunatas há uma almofada de mármore preto com veios brancos, quais diagonais e tão bem lançados em cada almofada que enganam os olhos, parecendo traçados a pincel: no meio das 4 colunas está a imagem de Nossa Senhora do Livramento, quebrada em um braço por hum francês que ali entrou em 1833". Torre D´Aires- Luz de Tavira Torre islâmica, de planta circular originalmente, que juntamente com o Castelo de Tavira e outras torres, integrava o sistema defensivo da Região. Tal como habitual neste tipo de estruturas de vigia, a Torre de Aires implanta-se em local de longo alcance visual *1. Segundo alguns autores, poderá ter estado integrada numa fortificação ou casa senhorial da antiga cidade de Balsa. Pego do Inferno- Santo Estêvão A Cascata do Pego do Inferno é a maior de um conjunto de três cascatas (Cascata do Pomarinho e Cascata da Torre) formadas em tufos calcários existentes na ribeira da Asseca em Santo Estêvão, perto de Tavira, no Algarve, sul de Portugal. Tufo calcário é um tipo de rocha formada em águas de origem cársica que após perderem dióxido de carbono ficam sobressaturadas em carbonato de cálcio que se acumula no fundo de cursos de água, em cascatas, lagos ou qualquer outro ambiente aquático. Esta cascata, uma das mais curiosas de Portugal, cuja queda de água não é muito alta, pois ronda apenas os 3 metros, dá origem a uma lagoa de tons verdes azeitona. Cor quente e mediterrânica que lhe advém da profundidade das suas águas e da cor dos terrenos e da vegetação onde se insere. Sobre esta cascata e a sua lagoa contam-se lendas e histórias que aumentam em muito a profundidade da lagoa que após medições foi certificada em cerca de sete metros. Lenda: Diz-se que há muitos anos, uma carroça se despenhou no pego, caindo os ocupantes na lagoa. Os cadáveres dos ocupantes da carroça e os dos animais que a puxavam nunca foram localizados e os mergulhadores não conseguiram encontrar o fundo da lagoa, chamando então ao local "Pego do Inferno". Ria Formosa - Luz de Tavira A Ria FormosaFundado em 1987, numa extensão de 60 Km pela costa algarvia, entre o Ancão (concelho de Loulé) e Manta Rota (concelho de Vila Real de Santo António), ocupa uma superfície de cerca de 18.400 hectares, abrangendo partes dos concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Sto António. Grande parte da área corresponde ao sistema lagunar da Ria Formosa, um cordão de ilhas e penínsulas arenosas dispostas paralelamente à costa, protegendo uma laguna que forma um labirinto de sapais, canais, zona de vasa e ilhotes. Este cordão é constituído fundamentalmente pela Península do Ancão (que inclui a incorrectamente chamada "ilha de Faro"), as ilhas da Barreta, Deserta, Farol-Culatra (onde se encontra o farol de Sta Maria e a povoação piscatória da Culatra, frente a Olhão), ilhas da Armona-Fuseta, de Tavira, Cabanas e, finalmente, Península de Cacela. O Parque Natural da Ria Formosa caracteriza-se pela presença de um cordão dunar arenoso litoral (praias e dunas) que protege uma zona lagunar. Uma parte do sistema lagunar encontra-se permanentemente submersa, enquanto que uma percentagem significativa emerge durante a baixa-mar. A profundidade média da laguna é de 2 m. Este sistema lagunar de grandes dimensões - estende-se desde o Ancão até à Manta Rota - inclui uma grande variedade de habitats: ilhas-barreira, sapais, bancos de areia e de vasa, dunas, salinas, lagoas de água doce e salobra, cursos de água, áreas agrícolas e matas, situação que desde logo indicia uma evidente diversidade florística e faunística. A presença dos homens acompanha a Ria em toda a sua extensão materializando-se, sobretudo, em núcleos urbanos, construções isoladas e aldeamentos turísticos. A pesca e as necessidades de defesa, eis duas das razões que juntaram os homens neste Sotavento Algarvio: - Cacela, dominada pela sua fortaleza setecentista;
- Tavira, que já foi romana e árabe;
- Fuzeta, que se originou num arraial de mareantes;
- Olhão, uma cidade que parece transposta de um qualquer Norte de África;
- Faro, provavelmente a Ossonoba de que falavam os antigos.
A Ria Formosa confronta a norte com aluviões antigos da campina de Faro e com formações plio-plistocénicas (areias e arenitos), do Terciário (arenitos e calcários) e do Jurássico (calcários). Mais a norte enquadra-se a formação xistosa do Caldeirão. São estas mesmas formações que se encontram nas bacias de recepção dos cursos de água que nela desaguam. A sul é limitada por um conjunto de ilhas-barreira do cordão arenoso litoral, que a separa do Oceano Atlântico, e que a partir de Quarteira, toma a direcção NO-SE até ao cabo de St.a Maria. Para leste deste cabo, encurva-se, flectindo na direcção de SO-NE até Cacela. As ilhas " barreira" (de poente para nascente) são conhecidas por península do Ancão (Praia de Faro), ilhas da Barreta, Culatra, Armona, Tavira, Cabanas e península de Cacela. As seis barras de maré que as separam possuem características diferentes, consoante se encontrem a oeste ou a leste do cabo de St.a Maria, e são designadas por barras de Ancão ou de S. Luís, Faro-Olhão, Armona, Fuzeta, Tavira e Lacém. Com uma profundidade média de 2 m, e uma disposição irregular dos fundos, a laguna caracteriza-se por uma extensa área intertidal ocupada por espraiados de maré e barras, que interferem significativamente no sistema das correntes de maré. Cerca de 14% da superfície lagunar encontra-se permanentemente submersa, e cerca de 80% dos fundos emergem, durante a estofa de baixa-mar em regime de marés vivas. Os cursos de água que desembocam no sistema lagunar da Ria Formosa (rios Seco, Gilão, ribeiras de Almargem, Lacém, Cacela, e outros) são sazonais, com um regime torrencial, dada a fraca pluviosidade local. Assim, a Ria Formosa é alimentada quase exclusivamente por água oceânica. O Parque Natural da Ria Formosa enquadra-se numa região de clima mediterrânico, de características semi-áridas, com uma estação seca prolongada, durante os meses de Verão, e com um Inverno ameno devido à influência do fluxo atlântico do oeste, e pelo facto de se encontrar longe das regiões de origem das massas de ar polar continental. Inserida no Sul de Portugal, possui características climáticas de transição para o sub-tropicalismo, em que as precipitações são fracas e irregulares, as temperaturas são amenas, com raras ocorrências de valores negativos, e a insolação é elevada, cujos valores médios são respectivamente da ordem dos 450 mm, 18ºC e 3150 horas. De entre os valores naturais e culturais do Parque Natural da Ria Formosa destacam-se: Sítio da Balsa - Luz de Tavira Balsa foi uma importante cidade romana, que existiu na freguesia de Luz (concelho de Tavira, distrito de Faro), nos terrenos litorais hoje designados por Torre d'Aires, Antas e Arroio, tendo Pedras d'El-Rei, Luz, Rato e Pinheiro como subúrbios. É citada nas listas de cidades do Império Romano (por Pompónio Mela e Plínio-o-Velho, no séc. I d. C. e por Ptolomeu, no séc. II), posteriormente como etapa de um dos Itinerários de Antonino (roteiro de estradas e rotas navais do séc. III) e, já após o fim do Império do Ocidente, na Cosmografia do Anónimo de Ravena (séc. VII, mas baseada em documentos muito mais antigos). A história urbana de Balsa romana inicia-se no séc. I a. C. e termina no séc. V ou VI da nossa era. Teve o seu apogeu urbanístico no século II, chegando a ocupar uma área de cerca de 45 hectares (ha), excluindo subúrbios e necrópoles. Era assim uma cidade de considerável dimensão no Império Romano, muito acima da média urbana da província da Lusitânia, a que pertencia. Destacava-se relativamente a Olisipo (Lisboa), Ossonoba (Faro) e Conimbriga (Condeixa-a-Velha, Coimbra), então respectivamente com 29, 28 e 23 ha, e era oito vezes maior do que os 5.5 ha da zona amuralhada de Tavira medieval! Cidade portuária litoral, sede de civitas, isto é, de uma autonomia municipal, que abrangia todo o Algarve Oriental entre Bias e o Guadiana, cunhou moeda própria em meados do século I a. C., no início da ocupação romana efectiva. No século I d.C., Plínio designou este local como oppidum, mas o mesmo deve ter conhecido um notável desenvolvimento posterior, no tempo dos Flávios e, nessa altura, foi promovido a municipium. Pelos documentos epigráficos presume-se que Balsa deve ter tido um circo. O território de Balsa contava com importantes recursos agrícolas, mineiros e florestais.Às cidades do litoral algarvio chegam fortes influências do Mediterrâneo Central, sobretudo da Península Itálica, da Gália do Sul, e do Norte de África. As inscrições romanas de Balsa e Ossonoba dão conta da presença de uma elite mercantil que controlava as principais actividades económicas e que participam da plenitude dos valores romanos. |